quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Crônicas tecnológicas - parte 1

Bom, tô sem sono. Então decidi escrever duas histórias que não saem da minha cabeça. Que vocês sejam bem vindos às

CRÔNICAS TECNOLÓGICAS

histórias de problemas adultos ligados a tecnologia.


Ah! E antes de começar, cabe deixar o aviso: as histórias que seguem são baseadas em fatos reais... ou não e podem ter só saído da minha cabeça. Os nomes de pessoas e de marcas foram alterados ou não foram citados para proteger as identidades e evitar processos.

Agora sim. Vamos começar!

A FECHADURA


Já faz um tempo que eu e minha esposa fomos para um jantar na casa de uns amigos, outro casal. Sabe, programa de adultos.

Quando íamos entrar na casa, eu reparei numa coisa que seria a fonte de inúmeras discussões com minha amada: a fechadura.

Eles tinham uma fechadura toda tecnológica: reconhecia digital, tinha um teclado numérico para digitar código e um espaço para passar cartão... além de estar ligada em rede com o assistente pessoal da casa, só esperando ser chamado para começar a funcionar.

Tocamos a campainha.

A mulher do casal mandou o robozinho abrir a porta pra gente da cozinha. Foi lindo: a porta abriu sozinha e enquanto nós íamos entrando de um lado da sala, ela chegava do outro pra nos receber. Minha companheira ficou maravilhada. Dava pra ver o brilho nos olhos dela, parecia uma criança encantada com um brinquedo novo.

O jantar foi agradável. O problema veio uma ou duas semanas depois.

- Amooor, ela me chamou, vamos trocar a nossa fechadura?
- Nããão - eu respondi.
- Mas já pensou que legal poder entrar em casa só com a digital? E com um código então?
- Amor, a gente mora num prédio cheio de crianças que vão ver um teclado e saber que tem que digitar um código pra entrar. Uma delas vai ficar tentando até travar porta.

A conversa acabou aí, mas continuou um tempo depois. Aí acabou de novo e voltou de novo... algumas vezes. Então eu vou fingir que a gente continuou porque é mais fácil de escrever assim.

- Mas é mais prático uma fechadura dessas, não precisa ficar levando a chave.
- É mais prático enquanto não tá dando problema: e o dia que acaba a força?
- Tem bateria - ela respondeu.
- Mas bateria descarrega. É só ficar uns anos sem a força cair e, de repente, quando a gente precisa, cadê a bateria de emergência. A gente vê isso nas luzes de emergência. Aí, além de sem força, a gente não vai poder entrar em casa - eu disse.
- Mas aí é só andar com o cartão.
- Amor, tem uma coisa menor que o cartão que eu acho que dá pra levar sempre com a gente.
- O quê?
- Uma chave! - respondi sorrindo.

Ela não desistiu:
- Mas é mais seguro.
- Claro amor, além de arrombar, dá pra ficar chutando a senha até acertar e, de quebra, dá pra hackear o ponto digital da sala pra abrir a porta.

Eu realmente acredito em tudo que disse nessa conversa. Nesses dias parece que eu fui o vilão da história, que eu fiquei tentando impedir minha esposa de trocar a fechadura, de conseguir o que ela queria. Felizmente não foi isso. Ela estava é querendo se convencer de que valia a pena comprar aquela coisa cara, mas me usando nesse processo. Com muita conversa vimos que a real preocupação era aumentar a segurança da casa, então ela ficou muito mais feliz em colocar uma chave quadrupla na porta da entrada.

A LISTA DE DESEJOS

Eu e minha patroa criamos uma conta Primária, Preferencial de uma empresa de vendas da internet aí.

Essa conta pede um pagamento muito pequeno para alguns benefícios interessantes: muitos livros digitais disponíveis, HQs, um serviço de streaming com séries e filmes, fretes gratuitos e entregas mais rápidas.

Na verdade, ela criou a conta, cadastrou o cartão de crédito e a gente combinou que eu ia usar o login dela e pagar tudo pelo cartão dela. Se eu criasse uma conta separada, teria que pagar duas vezes o serviço para ter os benefícios.

Já faz mais ou menos um ano que fazemos isso. E a gente usa a mesma lista de desejos no app, compartilhada entre os dois celulares. Aparece também no site, quando acessamos o sistema pelo computador.

Duas semanas antes do aniversário dela e a gente tava meio sem grana. Então eu tive uma ideia de gênio: era só comprar uma lembrança da lista de desejos do app pra não deixar a data passar batida.

Fui olhando a lista, os preços... aí eu vi uma coisa bem legal: um livro de terror que tinha visto faz um tempo, o Ultra Carnem, escrito por Cesar Bravo. Se estava ali, ela também queria. Abri uma guia anônima no computador, loguei com outra conta, fiz compra, com embalagem pra presente e paguei no boleto. Pronto, ela nem tinha como desconfiar e iria receber um presente no aniversário.

O livro chegou quando ela tava no trabalho e eu de folga. Recebi, escondi e era só esperar a data.

No aniversário dela, eu, todo feliz, entreguei o livro. Ela abriu animada e, de repente, o sorriso vira uma carranca... "O que é isso?" ela me perguntou. "É um livro que estava na lista de desejos". "Mas não fui eu que coloquei lá..." e a gente riu muito disso. Nós rimos de como eu coloquei um produto na lista dela e depois comprei achando que ela queria.

Três dias depois, no santificado dia que o salário cai, fomos pra um jantar romântico pra eu compensar a gafe histórica. Enfim, jantei num lugar legal, "ganhei" um livro e de quebra arranquei muitas risadas da minha esposa. O saldo poderia ter sido pior.