domingo, 24 de novembro de 2013

Injustice - Gods Among Us e reflexão?! O.o


Antes de mais nada, gostaria de avisar que este post se dedica à HQ. Vou falar do jogo, mas não muito. Além disso, aqui serão ressaltadas algumas partes do quadrinho que permitem uma reflexão política um pouco alinhada com o que eu penso.



>>>>> SPOILERS ABAIXO... MUITOS SPOILERS <<<<<

Em abril de 2013, a Warner Games lançou o jogo Injustiça: Deuses Entre Nós. Nesse jogo, que acontece em um universo alternativo (para que os quadrinhos regulares da Distinta Concorrente, DC, não possuam sua linha do tempo alterada), o Coringa se cansa de perder para o Batman e decide vencer uma vez brincando no Easy, dando uma lição no Super-Homem. O Palhaço Príncipe do Crime envenena o Homem de Aço e faz ele matar Lois Lane, que estava grávida. Aí, para encerrar o crime, o Joker ainda explode toda a cidade de Metropolis com uma bomba atômica. Essa é a premissa do jogo, onde todos os heróis da Distinta Concorrente (e alguns vilões) saem quebrando o pau no mesmo sistema empregado na criação dos últimos jogos da franquia Mortal Kombat.

Mas, melhor que o jogo (muito melhor!), é a HQ de Injustice, que poderia ser apenas uma jogada de marketing, mas se mostrou muito mais que isso, fazendo (ao menos tentando fazer) com que os leitores pensem em algumas das grandes questões acerca do mundo em que vivemos, principalmente aquelas ligadas à (in)justiça. E essa história em quadrinhos começa a fazer pensar quando o kryptoniano, logo depois de perder a esposa, o filho que estava por nascer e a cidade que tanto ama, mata o palhaço de maneira brutal.


Para que não aconteça com Arlequina o mesmo que aconteceu com o Coringa, Oliver Queen, o Arqueiro Verde, vai atrás dela para protegê-la. Ele entende que existem ocasiões onde é matar ou morrer, mas se coloca claramente contra execuções, ainda mais quando ela é realizada por um ser super poderoso.

Alguém aí consegue ver o paralelo com a ideia de pena de morte?


Logo em seguinda, Super-Homem decide fazer uma declaração para todo o mundo. Nela, ele diz que como herói ele tem somente reagido, que está cansado de ver monstros andando livre no meio dos homens e que aqueles que machucarem seus semelhantes vão sofrer as consequências por seus atos.


Para ele, não importam as posses de terra ou as fés distintas, não importam pequenos desentendimentos, não importa se você é um louco, um terrorista, um rei ou um presidente: ninguém tem o direito de acabar com vidas inocentes. Como ser superpoderoso que é, ele ordena um cessar-fogo global. E caso as hostilidades não acabem assim, ele vai acabar com elas.

Mas, logo nas próximas edições, é visto que não adiantou: as guerras continuam. Os assaltos continuam, o desemprego continua, quase nada muda.


O episódio coloca os heróis em uma caçada implacável a criminosos e, principalmente, super-vilões. Mas o mais importante é que são colocados Batman e Super-Homem como antagonistas: o morcego é firme em sua posição. Para Bruce, matar é errado, não existe motivo para que alguém seja juiz, júri e algoz de outro ser humano. O kryptoniano pergunta quantas vidas foram condenadas toda vez que Batman deixou o Coringa viver.

A discussão nunca se encerra, e são apresentados vários argumentos por parte dos dois maiores ícones das histórias de super-heróis. Devemos pagar o sentimento de segurança com o sentimento de liberdade? E mais, se matássemos criminosos, quão longe estaríamos deles?


Num determinado momento, os heróis que se aliaram com Super-Homem decidem que vão levar todos super-vilões para um lugar onde eles não possam mais machucar ninguém e, para ajudar o plot morcego contra ET, o time do Super-Homem decide limpar as celas de Azilo Arkham. Damian, novo Robin, se mostra bastante propenso a seguir o kryptoniano, perguntando inclusive porque eles não se aliam aos outros heróis e "queimam Arkham sem deixar pedra sobre pedra". Por que lutar contra os maiores heróis da Terra em defesa de um bando de psicopatas que não merecem misericórdia e nem ser tratados como doentes? Damian lembra bastante aqueles textos que circulam na internet repetindo que "direitos humanos são para humanos direitos".

Já no Azilo, Arlequina liberta os outros presos e o transforma o cenário no que os fãs de Super-Heróis mais gostam: heróis contra heróis contra vilões. E no meio da luta, Damian discute com Asa Noturna, fica irritado e atira seu bastão contra o aliado, que costumava sempre se defender desse movimento mas, dessa vez, no meio do campo de batalha, leva o golpe e morre.



Claramente um assassinato.

Muitos números depois, apesar do evento repercutir, Robin nunca responde legalmente por suas ações. Não era o discurso do Super-Homem dar fim em todos os criminosos? Aquele que mais severamente julgou acabou se tornando um assassino e, já que estava do lado "certo", nada acontece com ele...

Mais pra frente na história, um seguimento com a mulher gato também marcou bastante: com a mudança de paradigma do mundo, começam a aparecer mais pequenos criminosos. Pessoas fazendo menos mal que os verdadeiros vilões que arruinaram a vida de pessoas comuns. Homens e mulheres que perderam tudo com as alterações na economia e tiveram que achar um meio de sobreviver.

Mas também apareceram justiceiros auto-proclamados que começaram a matar esses pequenos infratores. Afinal de contas, quando um cara invencível e super rápido decide matar um dos criminosos mais famosos do mundo, isso mexe com a cabeça das pessoas. Ainda mais quando o mundo todo admira o cara. Aí ele mata alguém e não responde por isso.

Algumas das pessoas que buscam um exemplo no que seria o maior herói da Terra, aqueles que não têm muita empatia, aqueles que não conseguem enchergar hipocrisia em seus próprios atos, essas pessoas começam a pensar que podem matar os caras maus também. Mas elas nem ao menos sabem o que são os caras maus. Pra essas pessoas, os caras maus são as pessoas que roubam uma bolsa, um relógio...



Muitos são os temas abordados por esta obra. Muitos mesmo. E eu fico por aqui. Se quiser saber mais, basta ler. Obviamente eu destaquei os pontos com que sinto maior afinidade e, pra quem não percebeu, eu sou do time Batman!

Eu não lembro de ter visto algum episódio onde se colocou a polêmica de testes de remédios em animais, provavelmente não percebi ou ainda vão aparecer beagles no meio da história. Esse embate de heróis tem sido uma das melhores metáforas para abordar as grandes questões que trespassam nossa sociedade e (tentar) fazer os leitores pensarem.

Se você não consegue ver isso em Injustiça, leia de novo, com calma. Também nunca esqueça que em muitas obras de ficção são feitas críticas sólidas à sociedade: Brian Bendis (roteirista da Marvel) deixou isso bem claro ao responder um comentário sexista sobre os X-men. O roteirista mais famoso da Casa das Ideias lembra: a filosofia dos mutantes é justamente sobre tolerância e compreensão. Se você não consegue perceber isso, está lendo errado as X-histórias em quadrinhos.

Enfim, Injustice em menos de 1 ano de publicações nos Estado Unidos já está no número 36 e é muito boa. Vale a pena cada centavo e, muito mais que dinheiro, vale o primeiro post off-topic do blog.

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