Eu não lembro em que época do ano, mas sei que foi depois de junho, meu pai apareceu com um Mega Drive em casa no ano de 1992. Junto com o console, que ele comprou usado e sem caixa de uma locadora, vieram duas fitas: Quackshot e uma outra de navinha em japonês. Só agora, em 2025, eu descobri que o nome desse jogo em japonês é Fire Shark.
Não faz muito tempo, pesquisando sobre a história dos consoles no Brasil, eu descobri algumas coisas daquele Mega, que ficou comigo até 2002, quando meus pais compraram um Playstation 1 e passaram o console mais antigo para um primo mais novo.
Bom, pra falar sobre conquistas, achievments, nos videogames, eu gostaria de contar duas histórias que aconteceram comigo enquanto eu ainda tinha aquele velho Mega Drive.
Quackshot estrelando Pato Donald
Pra começar, eu não sabia ler português, até porque minha alfabetização só aconteceu no primeiro aninho e eu ainda estava na pré-escola. Fora isso, revistas de videogame não faziam parte da minha vida e muito menos da vida dos meus pais, que não tiveram nenhum console e nem se interessavam por isso.
Além disso, por mais que eu tenha demorado anos para conseguir fechar esse jogo, pra ir atrás de um detonado, eu teria que garimpar os sebos da minha cidade atrás da revista de videogame certa. Isso tudo ia muito além das minhas possibilidades na época. Só fui virar rato de sebo aos 13 anos, em 1998 e 1999 quando comecei a colecionar quadrinhos e conseguia as revistas usadas a R$ 1.
Enfim, nos mudamos daquela casa em 1995 e eu, com 9 anos de idade, ainda não tinha conseguido fechar Quackshot. Eu não conseguia passar de uma parte que um muro vinha da esquerda e esmagava o Donald contra uma parede. Tinha uns pisos móveis no chão, mas eu não tinha a menor ideia do motivo deles estarem lá.
Já em outra casa, que eu morei de 1995 até 2006, eu lembro das crianças da vizinhança terem se juntado em casa pra jogar Mega Drive e, quando chegamos nessa parte do muro, um dos meninos, mais velho, disse que tinha que pular nos pisos móveis na ordem certa.
Até tentamos, ninguém conseguiu passar e a gente foi jogar Battletoads and Double Dragon: The Ultimate Team porque dava pra duas pessoas jogarem de uma vez.
Em algum momento entre 1996 e 1998, depois de ter essa informação, eu decidi tentar acertar a sequência dos pisos móveis. Fui tentando sequências aleatórias e na segunda ou terceira vez que liguei o videogame só pra isso eu consegui por sorte. Desde então eu nunca esqueço a sequência: primeiro, último e terceiro. Foi só aí, pelo menos quatro anos depois de estar com o cartucho, que eu pude seguir em frente.
Outra coisa é que eu não lembro exatamente como aconteceu, mas a minha mãe foi pra sala simplesmente para assistir a parte inédita do jogo e ver eu fechar ele. Só meu pai não ligou muito. Talvez ele estivesse trabalhando ou talvez em casa, só que fazendo outra coisa. Mas sem problemas aqui, ele realmente não gostava de videogame.
Batman - o jogo do primeiro filme do Tim Burton
Esse jogo demorou pra ser meu e demorou mais ainda pra eu fechar. Tudo que eu lembro é que meu primo alugou uma ou duas vezes e eu joguei com ele na casa da minha vó. Não tenho certeza se eu cheguei a alugar essa fita, mas eu sei que até a gente ter ela em casa, dificilmente passávamos da fase do museu.
Batman: the Video Game era um ótimo jogo pra época, mas não era especialmente difícil nem tinha nenhuma parte que travasse a gameplay. Era só treinar que você ia ficar bom e conseguir fechar. Então, por mais que eu tenha demorado anos pra fechar, não é esse o ponto que eu quero abordar.
A tecnologia era bem limitada na época: nossa tevê tinha uma entrada para antena e uma entrada A/V. A solução que meus pais encontraram pra tudo funcionar era ligar antena e videocassete direto na tevê e, depois, ligar o videogame no videocassete. Então o videocassete tinha que estar ligado pra que a gente pudesse jogar.
Fio pra todo lado, uma parafernalha de tecnologia velha, mas com uma vantagem: dava pra gravar a gente jogando videogame em fita! Era só botar em resolução EP que ainda dava pra gravar 6 horas de gameplay.
Foi em 1997 ou 1998, eu estudava de manhã e meu irmão do meio, à tarde. Minha mãe saiu levar o pequeno pra escola depois que eu tinha chegado pro almoço e assim que eu terminei de comer fui pra jogatina! Naquele dia eu joguei especialmente bem e fechei Batman. Eu não acreditei. Eu. Fechei. Batman.
Imediatamente depois disso eu coloquei uma fita no videocassete e comecei a gravar outra gameplay até fechar o jogo de novo. Eu não sei quanto tempo de gravação deu, mas com certeza foi mais que meia hora e eu queria mostrar aquela fita pra todo mundo.
Criança insuportável.
Ninguém queria assistir, mas eu acho que consegui forçar alguém. Não lembro.
Conquistas
As conquistas em jogos podem ser legais. Elas podem ser muito mais que ícones ou troféus digitiais. Elas são o testemunho silencioso de que, em algum momento, enfrentamos desafios e superamos obstáculos.
Elas criam comunidades, laços invisíveis entre estranhos que compartilham o mesmo amor por um jogo. São provas que você fechou aquele título, enfreou desafios e chefes. E você pode mostrar isso ao mundo, ou apenas para aquelas poucas pessoas que importam. Pra quem entende que por trás daquela conquista há horas de dedicação, suor e, acima de tudo, diversão.
Eu queria tanto poder mostrar ao meu vizinho que, graças à dica que ele me deu, eu finalmente passei aquela parte de Quackshot. Queria que meu primo visse que eu fechei Batman. Naquela época não tínhamos como compartilhar essas vitórias.
Hoje, as conquistas podem ser legais.
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