Então bora comigo, que nós vamos analisar informações diferentes que chegaram até o público geral, ver o que a galera está falando, tentar entender a situação e errar absurdamente nas previsões para o futuro.
Dados que vieram da reunião com investidores da Sony
Em sua apresentação para investidores, agora em junho de 2025, dois dados muito importantes foram trazidos para o público em geral.
Em primeiro lugar, o PlayStation 5 é a geração de videogame que deu mais lucro para a Sony na história, alcançando vendas que chegam a 136 bilhões de dólares e lucro operacional de 13 bilhões.
Em segundo lugar, 53% da receita, de todo o dinheiro que entrou via PlayStation Store para a Sony, vieram de 8 jogos como serviço e 2 serviços de assinatura. São eles: EA FC (o antigo Fifa), Roblox, Call of Duty, NBA2K, Fortnite, Genshin Impact, EA College Football, GTA V, EA Play e Ubisoft+.
Para explicar essa parte, eu vou usar o valor de net sales como representando a receita da PlayStation Store. Se estiver errado, eu não me importo, ache você o dado certo e faça as contas.
Voltando: nenhum dos serviços listados é propriedade da Sony, então isso quer dizer que se a receita da PlayStation Store é de 19 bilhões de dólares, um pouco mais de 10 bilhões entraram na loja só por esses serviços e 30% desse valor, aproximadamente 3 bilhões, foi o que ficou pra Sony simplesmente porque o videogame é dela.
A conclusão tem que ser bem clara: a Sony ganhou 3 bilhões de dólares no ano fiscal de 2024 pelo simples fato de ter serviços de outras empresas rodando na máquina dela.
Essa valor paga todo o desenvolvimento fracassado de jogos que tivemos no últimos anos e ainda sobra. Fora isso, adivinha só, esse valor vai se manter ou aumentar agora em 2025.
Para que fique bem simples entender a comparação: o jogo exclusivo da Sony que mais vendeu na história foi Horizon Zero Dawn, que alcançou a marca de 24 milhões e 300 mil cópias no mercado. Se todas as cópias tivessem sido vendidas por 60 dólares, e não foram, o total de receita gerado pelo jogo desde o seu lançamento em 2017 seria de mais ou menos 1 bilhão e 500 milhões de dólares.
Isso é metade do que a Sony ganhou em um ano só "deixando" serviços de terceiros funcionarem no seu console.
O foco do videogame como negócio mudou: é uma máquina de jogos como serviço que vai ter alguns títulos single player, que são jogos como produto, para atrair uma parte do público. Tipo eu.
Literalmente, isso está escrito no slide 17 quando é falado do resto da receita da PlayStation Store, aquele pedaço que não vem dos serviços listados: "catálogo diverso e a melhor experiência do segmento para dar suporte a títulos explosivos" (tradução livre).
Tudo isso pra deixar uma coisa muito clara...
O papel dos exclusivos mudou
Os títulos single player, jogos como produto, não são mais a prioridade porque eles geram pouco lucro. O negócio principal da Sony passou a ser tentar criar jogos como serviço e se eles não derem certo, sem problema! É só tentar de novo, porque os serviços de outras empresas estão tocando o PlayStation.
E quando um desses projetos der certo, a Sony passa a ganhar não só 30% pelo uso do seu hardware, mas 100% porque é tudo dela.
Então, além de atrair uma parte cada vez menor do público, nós, velhos de espírito, qual é o papel dos exclusivos além de pegar pó nas prateleiras físicas e digitais?
A resposta mais honesta possível é: EU NÃO SEI. Mas baseado no que tenho acompanhado eu posso fazer alguns chutes mais ou menos direcionados.
Em primeiro lugar: remakes e remasters porque tem a gente acaba voltando pra alguns títulos de vez em quando. Tem jogos que são o lugar de conforto de muita gente.
Logo em seguida vem os ports. O próprio Shuhei Yoshida, ex-presidente da Sony, declarou que levar jogos para o PC é como imprimir dinheiro.
Mas, fora isso, os exclusivos são jogos que têm as vendas limitadas. Depois que uma parte da sua base já comprou, eles literalmente ficam parados ali, sem movimentar quase nada de dinheiro.
É sério isso: todo mundo que tem um PlayStation há alguns anos já jogou todos os exclusivos que queria. Então como a Sony pode ganhar mais dinheiro com eles?
Enquanto isso, os acionistas estão lá, cobrando que os lucros aumentem a cada trimestre.
Com os exclusivos parados, quase sem vendas, a Sony começa a se tocar de uma coisa...
Empresas de videogame estão se tornando multiplataforma
Pra começar a conversa, EU ACHO que a Sony já virou multiplataforma assim que lançou seus jogos no PC custando mais barato que na própria PlayStation Store. Mas eu vou deixar isso de lado pelo máximo de tempo que eu conseguir neste texto.
Continuando: vender seus jogos, que já estão prontos, em outras plataformas é acessar um mercado consumidor maior sem gastar quase nada, então é óbvio que as empresas vão estudar seriamente a ideia.
Não estou dizendo que elas vão fazer isso com certeza, mas sim que elas vão analisar se vale a pena para as vendas do título em questão e de possíveis continuações, por exemplo.
Mesmo pra Sony, colocar jogos pra vender no Xbox Series é tentador. Seu público potencial para jogos, que atualmente é de 77,7 milhões de proprietários de PlayStations 5, literalmente aumenta em 28 milhões, 36%, só por colocar um joguinho na plataforma concorrente.
Claro que não é todo mundo. Se a gente for ver, Marvel's Spider-Man 2 vendeu 11 milhões de cópias, que seriam 14% dos 77,7 milhões de PlayStations 5 vendidos. Então, considerando que os usuários de Xbox Series seriam a mesma demografia, é provável que esse jogo venderia algo perto de 4 milhões de cópias.
Tem que fazer umas correções, porque a proporção da demografia que consome consoles diferentes não está na mesma proporção, o jogo não é mais lançamento, ver se precisa de campanha de marketing e outros fatores que eu não quero explorar neste texto, mas que vão fazer esse número diminuir.
Enfim, a todo momento a Sony está fazendo as contas pra saber se vale a pena portar algum título para Xbox e a conta é clara: vale a pena levar Homem-Aranha para o Xbox por esse número de vendas? E o dano causado à marca, ou seja, como isso vai afetar as vendas futuras?
É sempre dinheiro, são sempre números e quando os dados apontarem que os lucros vão valer a pena, ela vai lá e faz. Se não fez ainda, é porque ainda não vale a pena.
Essa história ganhou ainda mais o cenário gamer porque apareceu um vazamento que a Sony está procurando contratar um um diretor sênior para estratégias multiplataforma.
E a descrição do trabalho é a que segue (em tradução livre): "você vai exercer um papel de liderança crítica no molde e execução da estratégia de comércio global para joguinhos da PlayStation Studios através de todas as plataformas digitais que vão além do hardware Playstation, incluindo Steam, Epic Games Store, Xbox, Nintendo e celular".
Eu vi em algum lugar que essa vaga já existia faz tempo e o cara que estava nela parece que foi promovido. Enfim, quem estava nessa vaga já tinha feito trabalho levando jogos para PC, por exemplo.
Além disso, o Vice Presidente da Sony, Sadahiko Hayakawa soltou que no segmento de jogos eles vão se afastar do modelo de negócios centrado em hardware para ir em direção a um negócio de plataforma.
O que, a rigor, não quer dizer muita coisa.
Num platform business, se coloca em contato duas partes, na maioria das vezes o consumidor e o vendedor, como é feito, por exemplo, num market place como o Mercado Livre. Depois disso, quando os envolvidos fecham negócio, a plataforma fica com uma porcentagem do valor.
Só que o PlayStation já faz isso e a base do negócio é o hardware, o console. Ela, a Sony, fica com 30% das vendas feitas por outras empresas dentro do sistema PlayStation e isso gera uma receita absurda!
Vimos que um pouco mais da metade disso deu um pouco mais de 3 bilhões de dólares no ano fiscal de 2024.
Se a Sony se afastar do hardware, o que ela vai fazer? Concorrer com a Steam?! Não faz o menor sentido se a gente pensar essa concorrência no mercado do mundo inteiro. Talvez até funcione no mercado japonês, mas abandonar o resto do mundo seria perder dinheiro.
Muitos analistas estão falando que a Sony quer copiar o novo modelo de negócio da Microsoft, mas ganhando no jeitinho que os videogames ganharam dinheiro desde o Nintendinho e começando atrasada em copiar a casa do Xbox, pra mim, isso não faz muito sentido.
Apesar de tudo isso, entrando no campo de tentar adivinhar o que pode acontecer no futuro, estamos no terreno da especulação e qualquer ideia meio que tem o mesmo valor: nenhum. Zero. Nada.
Até porque uma declaração pública do Vice Diretor de uma empresa pode servir para muitas coisas: despistar a concorrência, acalmar os investidores ou simplesmente ser algo que ele pretende que a empresa faça, mas mudanças no cenário econômico simplesmente tornam isso inviável e a ideia é abandonada no meio do caminho.
Deixando isso de lado e entrando no campo da especulação: a dona do PlayStation está enxergando mudanças no mercado que talvez precisem de reações da empresa.
Vou dar um exemplo bem simples: com Asus ROG Xbox Ally, a Microsoft já deixou claro que quer um aparelho que rode jogos Xbox e jogos de PC a partir de outras lojas digitais, como Steam, Epic Games Store, GOG e Amazon.
Se isso der certo, não teremos um Xbox rodando os jogos de PlayStation que já estão no PC?
A Sony vai ter que fazer alguma coisa a respeito.
Um diretor multiplataforma pode ser contratado para criar maneiras de impedir que a sua propriedade intelectual acabe rodando na plataforma concorrente. Agora, como isso vai ser feito, eu não sei. Pode ser analisando contratos, renegociando licenciamentos, indo até as vias legais ou qualquer outra coisa.
Mas também pode ser que a pessoa nesse cargo vai ser responsável em levar os títulos PlayStation para outras máquinas e lojas nos termos da própria Sony.
Se diversas lojas digitais vão passar a funcionar no Xbox, o que impede a Sony de criar a sua própria loja digital para vender títulos no console concorrente e ficar com 100% do dinheiro? De novo, isso depende do balanço entre a grana que vai entrar e o dano financeiro que vai ser causado na marca.
As possibilidades são muitas e as informações que chegam até o público geral são poucas. Resta analisarmos o que a gente tem e teorizar sobre o que pode ser feito, mas nada que você encontrar na internet agora é certo.
De qualquer maneira, eu posso dizer uma coisa com certeza absoluta: a Sony vai adotar a estratégia que vai aumentar mais os próprios lucros. E, encerrando, já que o papel dos exclusivos como console sellers diminuiu, quais são os motivos que levam uma pessoa a escolher uma marca de console hoje? Acho que se a gente explorar esse tema podemos chegar em algumas respostas interessantes para todo o cenário que está sendo montando nesta passagem de geração.
Fontes:
https://www.sony.com/ja/SonyInfo/IR/library/presen/business_segment_meeting/pdf/2025/GNS_E.pdf
https://www.gamesindustry.biz/playstation-full-year-operating-income-jumps-43-to-28bn
https://meups.com.br/noticias/jogos-da-playstation-no-pc-imprimir-dinheiro/
https://en.wikipedia.org/wiki/List_of_best-selling_game_consoles
https://mobile.twitter.com/Genki_JPN/status/1953483758667170146?ref_url=
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